A fotocópia mata a criação?

Este assunto irritou muitas pessoas. As respostas foram muitos, como as acusações e os ataques pessoais. Uma mesa redonda sendo uma discussão civilizada sobre um assunto qualquer, o objetivo aqui não é colocar "uma contra a outra" mas simplesmente debater problemas comuns. Todas as opiniões são apresentadas abaixo.

Infelizmente, não houve resposta à pergunta, a maioria preferindo justificar o porque da fotocópia. Mas, apesar dos preços, as bordadeiras continuam a comprar kits (desenho + tecido + fois + agulha), senão o sistema já teria sido modificado e haveria igualmente a possibilidade de se comprar unicamente os desenhos. Além do mais, a maioria das respostas fala de coleções e da necessidade de se ter várias vidas para realizar todos os desenhos guardados.

Valérie, de Madagascar: "Se os kits fossem vendidos a preços razoáveis, ou unicamente os desenhos separados do material, a gente faria menos fotocópias, eu pelo menos! Vivo num país onde o preço do fio DMC é de aproximadamente 2 francos (...) Penso que a política de DMC (e de seus "concorrentes", por que há realmente concorrência ou tudo não passa de um ologopólio?) é de vender caro para transformer seus produtos em artigos de luxo, reservados às pessoas de certo poder aquisitivo. E a venda sistemática de modelos de ponto cruz em kits é apenas o outro lado desta política. Comprando um kit, não se sabe mais quem se paga... O autor? Os fios? O tecido?... De qualquer maneira, penso que alguns enchem os bolsos e não penso que sejam os autores.
A fotocópia aparece então como um meio de autodefesa dos consumisores face à uma atitude exagerada dos vendedores. Pararei de fazer fotocópios o dia em que os modelos que eu quiser bordar forem vendidos unicamente em desenhos, quando se poderá escolher a marca e as cores dos fios, a qualidade e a cor do tecido.
O problema nisso tudo é que as "vítimas" do sistema são os criadores. Os vendedores de fios conseguem se virar porque eles vendem caro o fio de bordar. Não entendo porque os criadores aceitam esse sistema, porque eles não tentam, como nos Estados Unidos, de editar seus desenhos fora do esquema dos vendedores de fios e de tecidos".

Monique: "Batalhei há algum tempo contra a fotocópia dos desenhos de ponto cruz mas sinceramente, com o tempo, não creio que tenha havido resultados (...) Somos todas, penso eu, grandes colecionadores e temos uma necessidade de amontoar modelos e uma só vida não será o bastante para realizá-los! Acho que guardei mais de cem e não bordei nenhum! Pilhagem?

Catherine Ribierre: "Penso que o problema vem sobretudo do modo de distribuição. É realmente uma pena não se poder escolher entre um kit e um desenho. Quanto à mim, raramente faço um desenho em sua totalidade, na maioria das vezes pego alguma idéia aqui e ali para compor meu próprio desenho ou para enriquecer um desenho que fiz. Investir num kit que custa entre 200 e 300 francos não me interessa. Lógico que acontece de comprar um kit mas a cada vez isso me aborrece".

Bénédicte: "Acho que a maioria das mensagens deixada no site de Accrostitch à respeito da fotocópia de desenhos de ponto cruz é de uma hipocrisia incrível. Quem nunca fez fotocópia? Ninguém? Um pouco de tolerância. Por que ser obrigada a comprar desenho + fios + tecido???? Por que preços tão caros? Seria para selecionar compradores?Por que, na França, os preços são tão caros enquando que nos sites americanos os preços são derisórios?

Sabine: "Não sou contra a fotocópia porque se, como eu, vocês são apaixonada pelo bordado mas tem um pequeno orçamento, vocês devem saber que nunca é fácil comprar um kit. Se eu comprar um kit à 300 francos, isso vai representar 5 dias de refeições para minha família. Portanto, se eu quero um pouco de prazer em minha vida, que tem muitas restrições, tenho que fazer fotocópias de desenhos e poder trocá-los. O dia em que a gente encontrar os desenhos vendidos sozinhos e a um preço accessível, estarei de acordo em não fazer fotocópia".

Marion: "Fui estudante em econometria, e a partir da licença todos os livros custam mais de 300 francos: a gente só comprava se mais de um capítulo interessava, senão... fotocópia! Aliás, nesta mesma época, eu trabalhava como professor auxiliar para o Governo (3 500 francos/mês, para 18 horas de aula na periferia de Paris: tinha que estar motivada!). Os livros entre 300 et 600 francos... a única solução: não comer! Eu também não ia pedir a todos meus alunos de comprar todos os livros de onde a gente só utilizava um texto... fotocópia! E eu que bordo ponto cruz desde pequena, iria renunciar somente porque os livros custam em média 200 francos (o que representava dois dias de aluguel + comida e transporte, os kits à 300 ou 400 francos, etc... fotocópias! Havia a necessidade de se escolher as despesas mais importantes (...) Hoje, ganho bem minha vida e as únicas fotocópias que ainda faço são as de meus próprios livros (é mais leve para carregar). E quando minha sobrinha me pede um livro de ponto cruz emprestado por dois dias, não nego! Quando ela tiver um salário, ela fará como nós: gastar sem pensar para comprar o material necessário à nossa paixão!
Acho também que em vez de fazer perguntas não somente quando às fotocópias, a pergunta deveria ser no sentido do preço dos materiais de lazer ou culturais: são acessíveis a todos ? E o que podemos fazer para que o sejam? Honestamente, vocês acham normal que um ano letivo na universidade gire em torno dos 10 000 francos unicamente em livros? Vocês acham normal ter que comprar todo um kit quando a gente só quer o desenho? É venda forçada ou não? Principalmente porque o preço de todo material na França é muito caro!"

Isabelle Vautier: "É necessário fazer alguma coisa na França para que criadores como Lanarte ou Rouge du Rhin publiquem desenhos separadamente, sem tecido nem linha. Além do mais, os tecidos dos kits nem sempre correspondem aos nossos gostos, os fios idem. A única solução é comprar livros onde se tem uma oferta maior de desenhos a preços razoáveis. Sou professora de bordado em ponto cruz para escolas primárias e não vejo como pedir à prefeitura que me contratou de comprar 75 kits todos os anos (...) Um desenho fotocopiada é um desenho que a gente gosta (...) O bordado não pode se tornar inacessível àquelas que não têm condições financeiras para comprar o material necessário. DMC pratica preços elevados demais na França, mesmo se o produto é fabricado aqui. A arte do bordado e o lazer que ela oferece deve pertencer a todos. Se esta paixão acaba se tornando inacessível para uma dentre nós por causa de fotocópia, seria realmente uma pena".

Florent (da loja "Des fils et une Aiguille"): "É verdade que alguns kits são muito caros mas se a fotocópia continuar, eles serão cada vez mais caros. Um modelo Rouge du Rhin tem uma duração de vida de seis meses antes de ser fotocopiado centenas de vezes. Como você quer que uma pequena empresa francesa, que emprega funcionários, possa continuar ? Mesmo quando os criadores publicam apenas os desenhos, como Pique et Pique et un Diagramme, eles também são fotocopiados. Então, senhoras e senhores, cuidado: quando os criadores e as lojas estiverem mortos, são vocês que serão as vítimas, vocês não encontrarão mais modelos, material, idéias... e os preços serão altos! Compre para você, compre na França!"

Participaram desta mesa redonda: Valérie Cosyn, Monique, Vanessa Gandillot, Agnès Mourier, Catherine Ribierre, Bénédicte, Sabine, Hélène de Puteaux, Anne-Sophie Drion, Martine, Isabelle de Tourcoing, Marion de Houilles, Florent, Isabelle Vautier. A todos, meus agradecimentos.


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